A cada ano-calendário que termina, revisamos o planejamento do Feliz Ano Novo. Nós desenvolvedores atuamos dentro de um ambiente onde a única constante é a mudança, em função das iniciativas das empresas que fornecem tecnologia para nós: fabricantes de sistemas operacionais, bancos de dados, compiladores e interpretadores vivem de nos vender upgrades sistematicamente e, de vez em quando, também novos produtos.
É próprio dos profissionais conscientes preocupar-se com os movimentos do mercado como um todo ao fazer esse tipo de revisão dos planos. Se você não acredita, responda rápido: está na hora de você desenvolver aplicativos que funcionem exclusivamente no Windows 32 bits? Claro que uma decisão como essa não pode nem deve ser baseada apenas nas pregações dos “evangelistas” da Microsoft nem de seus concorrentes.
A total ausência de dados confiáveis sobre o mercado brasileiro nos fez optar pela construção de um banco de dados para essa finalidade, desde a fundação da empresa em 1990. Em meados de 1995 iniciamos a publicação de estatísticas derivadas destes dados na forma de um relatório chamado Brasil Software. A partir dos dados já publicados é possível prever que antes do final de 1997 mais da metade das equipes de desenvolvimento no Brasil estarão usando Windows 95.
Voltando à questão dos aplicativos 32 bits: como todos os fornecedores de linguagens já migraram seus produtos para 32 bits, não existe mais nenhuma razão de mercado para não iniciar o desenvolvimento de aplicativos 32 bits para Windows (o que não elimina o fato de que podem existir razões internas em uma dada equipe).
Um sinal que reforça esta tendência é a pequena queda detectada, pela primeira vez na última edição do Brasil Software, no tamanho da base instalada do Windows 16 bits. É importante notar que estamos analisando a base instalada (e não as vendas): se esta diminuiu é porque há mais equipes abandonado essa plataforma do que adotando-a.
Outra tendência muito clara é a adoção em massa da tecnologia de banco de dados relacionais (finalmente!, dirão alguns). Ao longo de 1996 a base instalada desta tecnologia dobrou de tamanho. No entanto, 60% das equipes de desenvolvimento compostas por no máximo cinco profissionais ainda não utilizam nenhum banco de dados relacional.
Um outro fenômeno claro é o posicionamento do Delphi (da Borland) como segunda linguagem de programação mais utilizada na construção de aplicativos para Windows, perdendo apenas para o Visual Basic, embora ainda por uma diferença muito grande. Mais, as taxas de crescimento da base instalada de ambos produtos permite garantir que o Delphi não ultrapassará o Visual Basic no mercado durante o ano de 1997.
Outra tendência promissora é que a base instalada total das linguagens orientadas a objeto (como o próprio Delphi, o Powerbuilder e o SQL Windows) começa a crescer claramente, ao ponto que é possível afirmar que esta tecnologia não é uma moda (foi considerada assim por alguns), mas se converterá em mais uma tecnologia a disposição dos desenvolvedores. No entanto, são pouquíssimas as empresas que optaram por construir suas próprias bibliotecas de classes: a maioria das empresas que usam orientação a objetos usa classes criadas por terceiros.
Entre as tendências que esperamos que se firmem em 1997 (embora existem apenas sutis indícios para tanto) vale a pena ressaltar algumas. A mais importante e geral é a tendência de diversificação das áreas de aplicação atendidas pelos aplicativos desenvolvidos no Brasil. Por exemplo, existem ramos de atividade com participação significativa no PIB (como p.ex. comércio exterior, logística e transportes, advocacia e justiça) para os quais a quantidade de aplicativos disponíveis é extremamente limitada.
Outra tendência importante para a tão almejada busca da produtividade é o aumento no uso de ferramentas de desenvolvimento adicionais a bancos de dados e compiladores. Até o final de 1996 somente 25% das equipes utiliza alguma biblioteca de terceiros, um software CASE ou componentes prontos.
Por último, esperamos que as software-houses brasileiras incrementem as vendas através de terceiros: no final de 1996 apenas 13% das software-houses usam esse canal, enquanto 64% delas trabalham com vendas diretas aos usuários finais.
Em resumo, podemos afirmar que o ano de 1997 deverá ser um ano marcado principalmente pelo amadurecimento das tecnologias já disponíveis.